De Washington, as primeiras impressões do que pode vir por aí, logo após o anúncio feito pelo presidente Barack Obama. Por: Sylvio Costa, de Washington DC
Em foto exclusiva, a manifestação em comemoração à morte de Bin Laden em frente à Casa Branca, em Washington |
O anúncio da morte de Bin Laden é daqueles acontecimentos com força suficiente para justificar uma mudança de rotinas e de práticas editoriais até mesmo em um site, como o nosso, voltado para a cobertura do Congresso e da política em um país até aqui livre das barbaridades do terrorismo (como o Brasil). Sobretudo quando, incidentalmente, você se vê no olho do furacão.
Em Washington, a convite da Fundação Sunlight, para participar de uma série de eventos voltados para jornalistas, profissionais da internet e ativistas digitais, imaginava que a última noite na capital norte-americana, após dias de trabalho intenso, seria de descanso. Até ouvir na TV, nos primeiros minutos da madrugada de hoje, algo absolutamente inesperado: o anúncio feito pelo presidente Barack Obama de que uma operação realizada no Paquistão havia permitido matar e assumir a custódia do corpo do líder do grupo terrorista Al Qaeda, Osama Bin Laden, 54 anos.
As horas seguintes, no quarto do hotel, foram de absoluta excitação, rastreando – tanto nos inúmeros canais de TV que passaram a transmitir ao vivo os acontecimentos quanto na internet – as primeiras reações ao fato e os possíveis desdobramentos que a bombástica notícia poderá ter.
Brevemente, já que escrevo estas mal digitadas na correria para comparecer ao meu último compromisso aqui em Washington, eis minhas impresões iniciais.
Todos unidos em torno de Obama
Líderes republicanos, comentaristas habitualmente críticos em relação à administração Obama e praticamente tudo o que li na internet nas últimas horas revelam, com raríssimas exceções, enorme apoio ao presidente norte-americano e à ação por ele anunciada. Obama, que tem enfrentado uma oposição fortíssima (capaz de contaminar em alguns momentos até mesmo o Partido Democrata, pelo qual se elegeu e tentará a reeleição ano que vem), deve experimentar um notável crescimento de popularidade.
Uma boa indicação está nas palavras divulgadas por um dos seus adversários, o ex-presidente George W. Bush: “Mais cedo, nesta noite, o presidente Obama me ligou para informar que forças americanas mataram Osama Bin Laden, o líder da rede Al Qaeda, que atacou a América em 11 de setembro de 2001. Eu dei os parabéns a ele e aos homens e mulheres das nossas comunidades militar e de inteligência que dedicaram suas vidas a essa missão. Eles merecem a nossa gratidão para sempre”.
Certamente, é cedo para extrair lições eleitorais do episódio, mas não é um desatino supor que ele tem boas chances de contribuir para consolidar o favoritismo de Obama na disputa presidencial de 2012.
Reação dos cidadãos norte-americanos
Muitos brasileiros revelaram, sobretudo no Twitter, perplexidade com a reação dos norte-americanos. Em Washington, milhares deles enfrentaram o frio da madrugada e correram para a frente da Casa Branca com o objetivo de comemorar a morte do terrorista saudita. Isso também ocorreu em Nova Iorque. Aqui e em várias outras cidades, famílias inteiras deixaram suas casas para pegar os carros e traduzir em buzinas estridentes a alegria com a eliminação de Bin Laden.
Para uma nação de forte influência católica como a nossa, tudo isso soa estranho, claro. Comemorar a morte de alguém?! Como reagiriam os brasileiros, no entanto, se tivessem sido eles as vítimas dos ataques? O pesadelo do terrorismo tem ao menos duas dimensões: o medo de ser atingido por algum atentado e o golpe no mito da invulnerabilidade norte-americana. As comemorações, em que pesem seu forte caráter patriótico (“USA, USA” era a principal palavra de ordem dos manifestantes), parecem estar mais relacionadas com o alívio, com a sensação – ainda que precária – de que os norte-americanos podem agora se sentir mais seguros.
Novos lances da guerra ao terror
Há virtual unanimidade entre os especialistas que se manifestaram nas últimas horas de que a “guerra contra o terror” está longe do fim. Alguns analistas militares ouvidos por emissoras de TV dos Estados Unidos preveem que pode ocorrer exatamente o contrário disso. Indignados com a perda de Bin Laden, membros remanescentes da al Qaeda e outros militantes de grupos islâmicos radicais podem tentar vingá-la.
Isto é, bem ao contrário do que imaginavam alguns tuiteiros brasucas que , aqueles que viajam para os Estados Unidos e outras nações ocidentais ainda demorarão bastante para se ver livres do martírio que há tempos obriga passageiros de voos internacionais a tirar sapatos, eliminar líquidos da bagagem de mão, serem impiedosamente escrutinados e a se submeterem aos olhares ameaçadores de agentes de segurança.
Nenhum comentário:
Postar um comentário